Esta historia passou-se no Alto Alentejo, là para as bandas de Aviz.
O moleiro tinha dois filhos , um filho que era pescador na barragem proxima mas que raramente vinha visitar os pais , e uma filha casada com um foncionario dos caminhos de ferro qua a levou viver para o centro do ribatejo.
A filha tinha dois filhos com 2 anos e meio de diferença um do outro.
Dois rapazes cheios de vida, sempre a mexer e a correr de um lado para o outro .
Um dia veio a doença obrigou-a a ir fazer tratamentos num hospital da capital , todos os dias apanhava o comboio com dois rapazes um a cada mão e la iam para Lisboa .
Com o tempo e a doença em progressão , o cansaço dos tratamentos e as deslocações quotidianas fez que a situação se tornasse impossivel .
A unica solução foi de enviar o mais velho viver com os avós para o Alentejo.
Foi assim que veio o neto do moleiro parar a este moinho perdido.
-Pés descalços, calções curtos , Cabelos castanhos claro, olhos verdes , alto mas magro como uma vara de salgueiro.
De uma algibeira pendiam os elasticos vermelhos de uma fisga.
Saltando de pedra em pedra como um cabrito, ia descendo a ribeira assobiando elegremente.
De tempos a tempos, parava e escutava cantar um pàssaro e tentava imitalo nas suas melodias .
Com sete anos, vivia longe de tudo, o amigo mais proximo encontrava-se a 3 quilométros, era o Antonio Joaquim o filho do boieiro da Foz.
Todos os dias se encontravam no caminho para a escola .
A conversa tinha sempre o mesmo tema, o que tinham feito no dia anterior depois da escola, os ninhos que tinham descoberto o nascimento de os passarinhos de tal ninho e os 5 quilometros de distancia que percorriam até a escola passava-se assim todos os dias.
O moinho situava-se num flanco de um vale fechado em contrabaixo de uma cascada de uma dezena de metros de altura.
Era um moinho a rodizio horizontal , as 4 mos estavam repartidas em tres niveis diferentes., raramente trabalhavam mais de tres ao mesmo tempo mas moia sem descontinuar noite e dia , salvo as vezes nos dias de trovoada e a ribeira tomava um largo caudal e a àgua subia até au rodizio.
A volta do moinho, em completa liberdade uma meia duzia de burros iam e vinham melancolicamente, a unica barreira que existia era a que os impedia de vir petiscar as flores da avó .
Comiam a pouca erva que crescia entre os blocos de ardosia cinzenta tipica desta régião de Aviz.
Do outro lado da ribeira uma horta de terra de nateiro deixado pelas cheias au longo dos anos.
Em canteiros bem desenhados dignos dos mais belos jardins a moda francesa cresciam os legumes , as hortaliças as couves e todo necessario para a alimentação quotidiana.
Au fundo da horta havia uma fonte, uma bacia esculpida na rocha pelos bisavôs envolvida pelas avencas de um verde fluorescente a folhas miudinhas. A àgua limpida que corria desta fonte, era stocada num reservatorio tambem esculpido na rocha , dele seguia um rego que atravessava a horta de uma ponta a outra , o que era bem pratico para regar, era só abrir o reservatorio e encaminhar a àgua segundo a necessidade.
A rega e a horta em general era a tarefa da avó, a lavoura era o avô que a fazia com um velho arado de ferro puxado pelo « Gaitas » um velho burro que para mim era, preguiçoso e manhoso.
Este burro era um enigma para mim, era certamente o mais velho de todos para os trabalhos mais delicados era sempre ele que era o designado . era comico ouvir o avô a ralhar com ele
-Anda gaitas….. aie … tu vais ver se andas ou não andas …arre gaitas .
o burro mexia simplesmente as orelhas e la ia andando devegarinho .
Com os anos compreendi a cumplicidade que existia entre o avô e esse burro , um ralhava e o outro não mexia sem ouvir ralhar , mas finalmente faziam uma equipa sem falha um e outro sabiam exatamente o que se devia fazer e que podiam contar um com o outro, e o que me parecia lentidão preguiça e manha era simplesmente o caracter de meu avô, homem corajoso
que vivia sem pressas mas que fazia tudo e nunca estava atrazado para tarefa alguma , simplesmente tudo era cordenado como um ritual repetido ao longo de anos .
Vivia
a vida ,dia a dia calmamente sem procurar fortuna nem complicações,
nenhum trabalho lhe fazia medo, sabia fazer tudo mas ao seu ritmo tendo como so lema a simplicidade e a honestidade receber como chegava e fazer como podia.
.
No Alentejo não havia despertador levantava-se cedo apenas os primeiros raios de luz apareciam e o avô estava de pé, antes que o sol mordesse a pele . Começava o dia em alimentando a mó de grão , depois abrir
o cerco das cabras para que partam comer o magro alimento que se
limitava a pontas de balsas ou alguma erva que crescia nas bordas da
ribeira.
Depois vinham as tarefas da horta e em fim de manhã voltava novamente os trabalhos do moinho, ensacar a farinha ou limpar o grão até a avó chamar para a mesa .
Depois do almoço por volta das 14 horas solares, fechava-se os contrabandos das janelas e fazia a sesta habitual , a tal sesta tanto atribuida aos alentejanos como simbolo de preguiça por esses que não conhecem o Alentejo e a dureza do clima alentejano.
O neto do moleiro miudo vivo e irrequieto aproveitava as sestas dos avós para ir fazer a voltinha dos campos de trigo ou de centeio, fazer umas armadilhas as perdizes e eventualmente capturar alguma que se tenha deixado surprender no laço da aboiz.
Foi numa dessas voltinhas que encontrou uma armadilha com 6 jovens perdigotos, com uma alegria euforica torceu o pescosso as 6 aves e pendurou-as a volta da cintura como
tinha visto fazer aos caçadores que vinham da Aldeia velha e partiu
correndo mostrar ao avô a caçada que tinha feito e orgulhosamente narrou o sucedido.
No dia seguinte a avó preparou as 6 perdizes guizadas como fazia para os frangos, o almoço foi um regalo , o neto estava feliz e contava e recontava como tinha colocado a armadilha, refeição findada , no fundo da caçarola restava outro tanto do que se consomiu.
O avô disse então:
-Parabens ao caçador , que grande manjar , e ainda tens refeição para mais duas ou trez vezes enquanto houver perdiz não se come mais nada..
O neto olhou a avó e disse-lhe de um tom inquieto que para a noite gostaria mais de migas de batata .
O avô respondeu antes mesmo que a avó diga uma so palavra .
-Rapaz , se não querias comer perdiz a todas as refeições porque as matastes as 6, duas só não chegavam?
Aprende uma coisa , a natureza dà tudo o que precisamos , basta colher , mas não estragues. Se não necessitas não colhas , outro serà feliz de colher o que tu não desperdiçastes e serà tão feliz como tu quando o fizer como tu estavas quando as capturastes essas 6 aves .
Não sejas egoista, para a proxima se desejas consumir o que caçastes matas . Senão, admiras e largas o animal agradecendo-lhe de te ter dado a felicidade de o teres tocado com as tuas mãos.
E para ter a certeza que compreendestes a lição vais fazer a sesta conosco a partir de hoje .
Os
anos passaram , o avô jà não é deste mundo , o moinho a balsa ja deu
conta dele, os campos de trigo e centeio desapareceram, o Antonio
Joaquim nunca mais tive novidades dele.
A horta é um balseiro imenso , os carreiros dificilmente se adevinham onde passavam outrora.
Mas a recordação desta época ficaram marcados a jamais na minha memoria , os anos passaram e o neto do moleiro não pode conter a làgrima que cresce no canto do olho ao pensar quanto era humilde e sàbio o avô, quanto era rico de espirito e de bom senso....
Quanta importancia dava a coisas que nos parecem hoje sem valor.
Quanto era justo para com tudo o que o rodeava.
Quanto desejo ser avô por minha vez e poder legar tal riqueza.
Trengo
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