segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Lendas Portuguesas

A Espada com asa

Em 1171, Santarém foi cercada pelos muçulmanos. D. Afonso Henriques encontrava-se na vila. Apesar de já não poder montar a cavalo, quis ir combater. Para isso, mandou preparar um carro para o levar ao campo inimigo. Os seus companheiros tentaram dissadí-lo, preocupados com a segurança do rei de Portugal. Mas este respondeu-lhes: -"Se pela ventura alguns tiverem receio, o que não cuido, fiquem na Vila, e não vão lá, que eu não poderei sofrer tanta vergonha". E lá partiu para o campo de batalha. Como de costume lutou bravamente, causando muitos mortos no exército inimigo. Venceram os portugueses. Depois da batalha, o rei contou que que vira, ao lado do seu braço direito, um outro braço armado e que terminava junto ao ombro com uma asa de cor púrpura. Este braço tinha-o ajudado na luta e tinha-o defendido dos golpes do inimigo. O rei concluiu que este braço pertencia ao seu anjo custódio ou ao arcanjo S. Miguel, visto que ele lhes tinha pedido auxílio antes de entrar na batalha. Muitos dos mouros que tinham também participado na batalha e que ficaram cativos, afirmaram terem visto o mesmo.

A fonte da Barroquinha

Era uma vez ... em dia já muito recuado na lonjura dos tempos, em pleno verão escaldante, o rei passava com a sua corte ali junto a Maceira. O rei sentia os ardores da sede. Ao passar roçando uma rocha, o poderoso rei, sem poder parara para matar a grande sede que o atormentava, gritou em desespero e tom eivado de maldição, para os seus acompanhantes: “Maldito cavalo que não escoicinha esta rocha até fazer água a fartar.” Palavras não eram ditas e o cavalo real, como se tivesse compreendido a fala irada do seu dono, dá uma forte parelha de coices na rocha que fez estremecer céu e terra. A escoicinhadela foi tão violenta que o rei teve de se amparar com a sua espada na rocha, no mesmo sitio onde o cavalo do rei escoiçara. Mas a espada, de fraca resistência, encontrou e furou a rocha, e, do furo aberto, jorrou água abundante e fresquinha que dessedentou o rei e toda a sua comitiva. O povo vendo aquela fartura de água tão fresca, onde sempre tudo fora secura, começou a escavar na parte mais baixa da rocha e ali abriu uma pequena barroca, por onde começou o jorramento do precioso líquido refrescante, que nunca mais findou e ainda hoje continua correndo onde se levantou mais tarde, a chamada Fonte da Barroquinha.

A Inês Negra


Esta história teve lugar em 1388, no início do reinado de D. João I, em que se travou uma guerra contra Castela pela independência de Portugal. Esta contenda, em que sobressaíram os feitos do Condestável Nuno Álvares Pereira e de muitos nobres portugueses, dividiu a aristocracia e o povo português, tomando muitas terras o partido de Castela. Foi durante esta guerra civil que a Inês Negra, uma mulher do povo fiel à causa portuguesa, abandonou Melgaço quando esta cidade se pôs ao lado do rei de Castela. Quando D. João I decidiu reconquistar Melgaço, Inês Negra juntou-se ao seu exército, mas as duas facções nunca chegaram a defrontar-se. A batalha travou-se entre Inês Negra e uma sua inimiga de longa data, a "Arrenegada", que tinha optado por apoiar os castelhanos. A lenda diz que a "Arrenegada" desafiou Inês Negra do alto das muralhas, propondo que a contenda fosse resolvida entre ambas com o acordo do exército castelhano. D. João I assistiu espantado à resposta de Inês Negra que dizia aceitar o desafio. Ambos os exércitos concordaram com este duelo e a Inês Negra, de espada na mão, defrontou a sua inimiga apoiada pelos gritos de incitamento dos homens de D. João I. O silêncio instalou-se quando a "Arrenegada" fez saltar com um golpe a espada das mãos de Inês, mas esta tirou uma forquilha da mão de um camponês e fez-se à luta, procurando atingir a "Arrenegada" nas pernas. Sentindo-se em desvantagem, esta atirou fora a espada e pegou num varapau que quebrou com fúria nas costas de Inês. Louca de fúria e de dor, Inês Negra largou a forquilha e atirou-se com unhas e dentes à sua oponente, rolando ambas no chão empoeirado. Um grito de dor gelou a assistência, que não conseguia perceber qual das duas vencera. Foi então que a "Arrenegada" se levantou e fugiu para o castelo, tapando as nódoas e o sangue do rosto com as mãos. Os castelhanos abandonaram Melgaço no dia seguinte e D. João I quis recompensar a heroína, mas esta respondeu que estava plenamente recompensada pela sova que tinha dado à sua inimiga.
A lenda da sempre-noiva
Perto de Arraiolos, ergue-se um belo solar construído entre os séculos XV e XVI, que tem o nome romântico de Solar da Sempre-Noiva. A maioria dos monumentos desta época que ainda se encontram de pé são monumentos religiosos, como igrejas e conventos, ou então monumentos militares, como fortes e muralhas. Este solar, embora em ruínas, é precioso, pois é uma das poucas casa em estilo manuelino que não desapareceu. Conserva ainda elegantes janelas com arcos de ferradura e uma arcaria a que se dá o nome de galilé. A lenda da Sempre-Noiva está associada a esta propriedade, muito antes de existir o solar. Contam-se pelo menos três histórias com este nome! A primeira sempre-noiva Curiosamente, esta primeira lenda junta na mesma narrativa as duas tradições de Arraiolos, precisamente os tapetes e a Sempre-Noiva... Ao que parece, no tempo das lutas entre cristãos e mouros, vivia ali uma donzela que ficou noiva em má altura pois no dia do casamento a vila foi atacada e o noivo teve de partir para o combate. Nesse tempo as guerras prolongavam-se por tempos infinitos e, não raro, mal acabava uma começava outra! Assim, quando passado muitos anos o rapaz voltou e quis casar, a noiva, contristada por ter perdido a beleza da juventude, demorou a aparecer! E quando os convidados já desesperavam que o casamento se efectuasse, ela apresentou-se coberta com um tapete para ocultar as «marcas do tempo». A segunda sempre-noiva A segunda Sempre-Noiva chamava-se Beatriz e era filha de D. Álvaro de Castro, irmão da malograda Inês de Castro e primeiro conde de Arraiolos. Beatriz era uma jovem de fulgurante beleza, não admira pois que um castelhano chamado Afonso de Trastâmara se apaixonasse por ela. Mas estes foram tempos conturbados! Portugal estava em guerra com Castela. Corria o ano de 1384, Lisboa estava cercada pelos espanhóis. O trono estava vago, e era o mestre de Avis quem comandava a resistência dentro da cidade. Beatriz encontrava-se também em Lisboa e, por qualquer motivo obscuro, o mestre de Avis suspendeu as hostilidades, deixou entrar um nobre espanhol chamado D. Pedro Álvares de Lara e casou-a com ele. Esta festa deve ter parecido bastante bizarra aos olhos do povo, que dentro das muralhas sofria os tormentos da guerra! Mas visto que decorreram seiscentos anos sobre o incidente,torna-se difícil ajuizar sobre os motivos que levaram as pessoas a proceder assim. De qualquer forma, o casamento não chegou a consumar-se porque o noivo, regressando com Beatriz ao acampamento dos espanhóis, morreu de peste. Afonso de Trastâmara recuperou a esperança de casar com a sua amada, mas morreu quando pelejava valentemente para a impressionar. Depois da luta acabadas e de o mestre de Avis subir ao trono, Beatriz voltou a viver em Portugal e o rei lembrou-se de a dar em casamento a D. Nuno Álvares Pereira, que tinha ficado viúvo e a quem tinha sido dado o título de segundo conde de arraiolos. Mas ele recusou. E consta que o rei, conversando com ela longamente a fim de encontrar marido que lhe conviesse, acabou por ficar ele próprio cativo da sua beleza! Talvez por isso, não só não voltou a escolher-lhe outro noivo como mandou matar Fernando Afonso que casou com ela secretamente. E mandou-o matar de uma forma cruel: queimado numa fogueira armada na praça pública, para toda a gente ver. A terceira sempre-noiva Também se chamava Beatriz a terceira Sempre-Noiva. Era filha de D. Afonso de Portugal, arcebispo de Évora, que era um homem cheio de iniciativa. Mandou construir vários conventos e palácios, entre os quais este solar onde ela sempre residiu. Esta menina estava noiva de um nobre espanhol, muito vaidoso mas muito medroso também! Certo dia, passeando com ele pelos campos, surgiu um toiro tresmalhado que correu para eles. Em vez de a defender, o noivo fugiu a sete pés e foi o maioral quem veio garbosamente em seu socorro. Esporeou o cavalo e conseguiu arrebatá-la no último instante! Conduziu-a depois na garupa até casa, e desse abraço ela não se libertou mais. Apaixonara-se irremediavelmente pelo seu salvador. Mas nesse tempo uma menina nobre não podia casar com o seu criado... Beatriz preferiu ficar solteira toda a vida, rejeitando com indiferença os mais ilustres pretendentes.

A lenda da tomada de Faro aos Mouros


Parte das forças que atacaram o Castelo de Faro fora colocada no largo actualmente chamado de S. Francisco, e estas forças eram comandadas por um brioso oficial, robusto e formoso rapaz, solteiro. Este oficial pôde ver em certa ocasião a formosa e gentil filha do governador mouro e dela ficou enamorado. [...] Em certo dia conseguiu o oficial que a sua namorada o recebesse em curto rendez-vous dentro do castelo, combinando-se que o mouro intermediário lhe abrisse, alta noite, a porta, hoje da Senhora do Repouso. [...] À hora marcada entrou o oficial no castelo e aí em doce colóquio se entreteve com a dama dos seus encantos. À hora de sair, acompanhou ela o seu querido namorado até à porta do castelo, levando consigo um irmão, criança de oito anos. Quando se aproximaram da porta, disse-lhes o escravo, que da parte de fora estava muita gente, pois que mais de uma vez lhes chegavam aos ouvidos vozes abafadas. [..] O oficial, segurando nos braços a moura gentil, viu-se em eminente perigo. Avançou para fora com a moura e, quase ao transpôr a porta, hoje conhecida pela Senhora do Repouso, notou que tinha nos braços não uma formosa jovem, mas apenas uns farrapos, que se desfaziam à mais pequena e leve aragem. Olhou para o lado pela criancinha e não a viu. Então teve a profunda e tristíssima compreensão da sua desgraça. Caiu no chão sem sentidos. [...] Nesse momento acudiram as forças do Mestre e de D. João de Aboim e os mouros tinham sido forçados a entregar o castelo, mediante uma avença com o Rei D. Afonso. O oficial [...] dirigiu-se à porta do castelo. Ao entrar pelo Arco da Senhora do Repouso viu ao lado esquerdo a cabeça de uma criança que se assomava por um buraco. - O que fazes aí, menino? perguntou o oficial, conhecendo o irmão da sua namorada. - Estamos aqui encantados: eu e a minha irmã. - Quem vos encantou? - O nosso pai. Soube por uma espia que levavas nos braços a minha irmã acompanhada por mim e, invocando Allah, encantou-nos aqui no momento em que transpunhas a porta. Por atraiçoarmos a santa causa do nosso Allah aqui ficaremos encantados. - Por muito tempo? -Enquanto o mundo for mundo.

A Lenda de Abidis

Outrora existia junto do rio Tejo um reino verdejante e florido. Nas suas florestas havia muitos animais. Os habitantes eram lavradores e caçadores que amavam a Natureza. O rei Gorgoris recebeu dos deuses o segredo de fazer o mel. Foi Gorgoris quem ensinou esse segredo às abelhas. Por isso era conhecido no seu reino e até em países longínquos pela alcunha de Melícola. Gorgoris tinha uma filha única, a bela princesa Capipso que adorava passear nas areias doiradas das praias do Tejo. Certo dia, chegou ao cais de Melícola o navio do grego Ulisses que vinha abastecer-se de comida e água e, também, comprar o famoso mel daquela região. O herói grego desembarcou para falar com o rei, mas encontrou Calipso e logo se apaixonaram e, esquecidos de tudo, ficaram dias e dias gozando as delícias daquele país de sol e floridos campos e frondosas florestas. Os caçadores viram os namorados e foram contar ao rei Gorgoris. Furioso, o rei ameaçou de morte o estrangeiro Ulisses porque não queria que a filha gostasse dele. Ulisses fugiu, às escondidas, numa noite escura. E a pobre princesa ficou abandonada e à espera de, em breve, ter um bébé... A criança nasceu linda como um anjo. Num braço tinha marcada a vermelho uma flor que a princesa beijou, com muita ternura.-Ábidis, assim te chamarás!. Melícola mandou pôr o bébé num cesto e lançar o cesto ao rio. O cesto ficou encalhado numa praia do Tejo. Vieram as corças beber ao rio. Uma aproximou-se do cesto. Puxou-o e deu de mamar a Ábidis. O Príncipe foi criado pelos animais do bosque. Vinte anos depois, o rei Gorgoris estava à morte. Cheio de desgostos, porque não tinha nenhum filho, nem nenhum neto para herdar o reino. Os caçadores falaram-lhe de um jovem, belo e forte, que andava com os animais pelas florestas dos montes e dos vales. O rei ordenou que o trouxessem à sua presença. Armaram-lhe uma ratoeira e apanharam Ábidis. Logo que o viu, a pobre Calipso, que estava muito doente, reconheceu-o pelo sinal no braço. Gorgoris pediu perdão à filha e ao neto e fê-lo seu herdeiro. Ábidis governou muitos e muitos anos com justiça e sabedoria. Nos montes, onde foi criado pela corça, mandou construir uma cidade e chamou-lhe Esca Ábidis, que significa as delícias de Ábidis

A lenda de Noé


O capítulo 9 do Gênesis diz que Noé, após ter desembarcado os animais, plantou um vinhedo do qual fez vinho, bebeu e se embriagou. Entre outros aspectos interessantes sobre a história de Noé, está o Monte Ararat, onde a Arca ancorou durante o dilúvio. Essa montanha de 5.166 metros de altura é o ápice dos Cáucasos e fica entre a Armênia e a Turquia. Entre as muitas expedições que subiram o monte a procura dos restos da Arca, apenas uma, em 1951, encontrou uma peça de madeira. A questão mais complicada é onde morou Noé antes do dilúvio. Onde quer que ele tenha construído a Arca, ele tinha vinhedos e já sabia fazer o vinho. As videiras, lógicamente faziam parte da carga da Arca. Uma especulação interessante é que Noé teria sido um dos muitos sobreviventes da submersão de Atlântida.
Vamos começar esta história pelo princípio. Mais precisamente quando Adão e Eva foram expulsos do Paraíso. Se você se interessa o item apócrifos do site continua atualizando o Primeiro Livro de Adão e Eva. Bem, Adão e Eva tiveram seus filhos que tiveram seus filhos através das gerações. Até um dado momento em que nasceu Noé. Embora haja muito pouco sobre Noé existem indícios de que ele foi, desde criança, portador de capacidades únicas. Alguns relatos falam sobre ter uma luz brilhante sobre si. Foi uma criança diferente. E diferente foi sua vida até chegar à vida adulta. Os homens, em seu tempo, haviam se distanciado de Deus. Todos os preceitos morais, religião e amor haviam sido reduzidos a níveis mínimos. A raça humana havia se tornado pagã . Seus costumes seriam os piores possíveis. Luxúria, incesto, assassinato seriam lugar comum ao pessoal daquele tempo. Segundo reza a lenda os olhos de Deus se desviaram dos povos existentes. De todos, exceto de um : Noé. Embora vivendo ao lado de um povo idólatra Noé permanecia temente a Deus e respeitador de suas Leis. Havia constituído família, possuindo três filhos que por sua vez possuíam suas três esposas. Um total de 8 pessoas. Seus filhos foram Shem, Ham e Iéfet . Em uma auspiciosa tarde Noé houve uma voz chamar por ele. Foi nesta também auspiciosa conversa que Deus teria dito a Noé : "Faze para ti uma arca de madeira resinosa. Farás a arca com compartimentos. Tua a revestirás com betume por dentro e por fora. Esta arca, fa-la-á com o comprimento de trezentos, com a largura de cinquenta e com a altura de trinta côvados. Farás para a arca um teto de duas águas, fixando-o um côvado acima dela. Porás a entrada da arca ao lado, depois lhe farás um um andar inferior, um segundo e um terceiro." ... " Entra na arca , tu e contigo teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos. De todo ser vivo, de toda carne, introduzirás um casal na arca para fazê-los sobreviver contigo : que haja um macho e uma fêmea! De cada espécie de pequenos animais do solo, um casal de cada espécie virá a ti para sobreviver. E tu, apanha de tudo o que se come e faze uma reserva para ti; isto será teu alimento e o deles" ... " Quanto a mim, farei vir o Dilúvio sobre a terra, para destruir debaixo dos céus toda criatura animada de vida; tudo o que existe na terra há de expirar. Eu estabelecerei a minha aliança contigo." .

Este foi o início da história . Podemos apenas imaginar a perplexidade de Noé ao ser defrontado com o próprio Criador. E, para piorar as coisas, viria nada menos que o fim do mundo. Tudo naquela auspiciosa tarde. Com certeza Noé não deve ter dormindo muito bem naquela noite. Podemos apenas também imaginar sua mulher o chamando de louco quando ele comenta, no café da manhã, que Deus havia falado com ele. E que ele iria construir um grande navio. E olhe que estavam muito longe do mar. O desjejum deve ter sido tumultuado. Os filhos comentando sobre toda a gozação que iriam sofrer ao construir um navio no quintal de casa. A sorte de Noé foi a de que, naqueles tempos, havia grande respeito com relação aos pais. Sobretudo ao pai. Assim sendo, após o desjejum Noé pôs a iniciar a construção da arca. Os relutantes filhos os acompanharam. O tempo era premente. O Senhor havia dado 7 ( sete ) dias a Noé . Então viria o Dilúvio , que castigaria a terra por 40 dias e 40 noites.

Embalados pela urgência da obra foram dias de muito trabalho. Tudo regado à gozação da população local que fazia da obra de Noé um motivo de chacota. Pouco sono e muito trabalho. Nos céus apenas ralas nuvens passavam aqui e ali. Os filhos e a mulher o olhavam, com desdém. Algumas revoltas dos filhos, das noras. Nada que um bom administrador não pudesse gerir. Enquanto preparavam a arca as mulheres colhiam o material necessário para alimentar tanto a eles quanto aos animais. No quarto dia, nada de chuva ainda. E o trabalho continuava. Nos últimos dias, porém, algo extraordinário começou a acontecer: vindo de todas as partes vieram animais de todos os tipos. Aves, roedores, mamíferos, predadores. O susto, pode-se imaginar, deve ter sido grande. Leões e outros animais de grande porte passando por eles . Cobras. Ratos. Uma população bem eclética. O ceticismo da família deu lugar à admiração. E o trabalho prosseguia sem parar.

Ao raiar do sétimo dia algo havia mudado. Os animais ainda chegavam provenientes sabe-se lá de onde. O céu nasceu cinzento. Faixas escuras podiam ser vislumbradas no horizonte. A arca estava praticamente terminada. Os alimentos, quase tudo recolhido. Apressaram-se para terminar tudo a tempo. Ao final do dia negras nuvens transformavam o dia em noite. Poucos animais ainda chegavam. Noé e sua família começaram a fechar as aberturas da arca. Trovões ribombavam por toda parte. Noé e sua família deve ter ajudado as poucas criaturas que faltavam a chegar à arca. Quando os primeiros pingos tiveram início a arca foi lacrada.

Dentro da arca, toda espécie de animais. Um zoológico flutuante. Cenas inusitadas : zebras calmamente ao lado de leões. Gatos com aves em cima. O cachorro dormindo ao lado do gato, silenciosamente. Realmente o fim do mundo se aproximava. A chuva lá fora aumentava absurdamente. Era a pior tempestade que haviam visto. E o trabalho na arca principiava. Afinal, tinham que cuidar e alimentar dos animais. Havia trabalho para todos. Então, subitamente e com um estrondo, a arca se deslocou. O volume das águas estava tão grande que o navio flutuava, livre. O que havia sido apenas o devaneio de um homem agora se mostrava real. Pessoas haviam batido à porta da arca. O Senhor , entretanto, havia advertido Noé de que não deveria abrir a arca sob nenhum motivo. E assim o fiel Noé agiu.

Bem, a arca flutuou sobre o mar que havia tomado a terra por 40 dias e 40 noites. Até que , ao secarem as águas, aportaram em uma montanha. Embora se falem na montanha de Ararat o termo original dizia que a arca aportou " nas montanhas de Ararat" . Uma diferença sutil. Mas na realidade bem grande.

Após o aporte Noé e sua família abriram a arca, deixando os animais saírem. Houve a repovoação do mundo. Noé e os seus puderam, enfim, descansar. E Deus fez aparecer sobre a terra um arco-íris, simbolizando a sua união com o Homem. Deus promete inclusive que não iria jamais destruir novamente toda a sua criação através das águas. Aqui é o final da história. A íntegra da história pode ser obtida diretamente da Bíblia, no Gênesis.

A lenda de Noé


O capítulo 9 do Gênesis diz que Noé, após ter desembarcado os animais, plantou um vinhedo do qual fez vinho, bebeu e se embriagou. Entre outros aspectos interessantes sobre a história de Noé, está o Monte Ararat, onde a Arca ancorou durante o dilúvio. Essa montanha de 5.166 metros de altura é o ápice dos Cáucasos e fica entre a Armênia e a Turquia. Entre as muitas expedições que subiram o monte a procura dos restos da Arca, apenas uma, em 1951, encontrou uma peça de madeira. A questão mais complicada é onde morou Noé antes do dilúvio. Onde quer que ele tenha construído a Arca, ele tinha vinhedos e já sabia fazer o vinho. As videiras, lógicamente faziam parte da carga da Arca. Uma especulação interessante é que Noé teria sido um dos muitos sobreviventes da submersão de Atlântida.
Vamos começar esta história pelo princípio. Mais precisamente quando Adão e Eva foram expulsos do Paraíso. Se você se interessa o item apócrifos do site continua atualizando o Primeiro Livro de Adão e Eva. Bem, Adão e Eva tiveram seus filhos que tiveram seus filhos através das gerações. Até um dado momento em que nasceu Noé. Embora haja muito pouco sobre Noé existem indícios de que ele foi, desde criança, portador de capacidades únicas. Alguns relatos falam sobre ter uma luz brilhante sobre si. Foi uma criança diferente. E diferente foi sua vida até chegar à vida adulta. Os homens, em seu tempo, haviam se distanciado de Deus. Todos os preceitos morais, religião e amor haviam sido reduzidos a níveis mínimos. A raça humana havia se tornado pagã . Seus costumes seriam os piores possíveis. Luxúria, incesto, assassinato seriam lugar comum ao pessoal daquele tempo. Segundo reza a lenda os olhos de Deus se desviaram dos povos existentes. De todos, exceto de um : Noé. Embora vivendo ao lado de um povo idólatra Noé permanecia temente a Deus e respeitador de suas Leis. Havia constituído família, possuindo três filhos que por sua vez possuíam suas três esposas. Um total de 8 pessoas. Seus filhos foram Shem, Ham e Iéfet . Em uma auspiciosa tarde Noé houve uma voz chamar por ele. Foi nesta também auspiciosa conversa que Deus teria dito a Noé : "Faze para ti uma arca de madeira resinosa. Farás a arca com compartimentos. Tua a revestirás com betume por dentro e por fora. Esta arca, fa-la-á com o comprimento de trezentos, com a largura de cinquenta e com a altura de trinta côvados. Farás para a arca um teto de duas águas, fixando-o um côvado acima dela. Porás a entrada da arca ao lado, depois lhe farás um um andar inferior, um segundo e um terceiro." ... " Entra na arca , tu e contigo teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos. De todo ser vivo, de toda carne, introduzirás um casal na arca para fazê-los sobreviver contigo : que haja um macho e uma fêmea! De cada espécie de pequenos animais do solo, um casal de cada espécie virá a ti para sobreviver. E tu, apanha de tudo o que se come e faze uma reserva para ti; isto será teu alimento e o deles" ... " Quanto a mim, farei vir o Dilúvio sobre a terra, para destruir debaixo dos céus toda criatura animada de vida; tudo o que existe na terra há de expirar. Eu estabelecerei a minha aliança contigo." .

Este foi o início da história . Podemos apenas imaginar a perplexidade de Noé ao ser defrontado com o próprio Criador. E, para piorar as coisas, viria nada menos que o fim do mundo. Tudo naquela auspiciosa tarde. Com certeza Noé não deve ter dormindo muito bem naquela noite. Podemos apenas também imaginar sua mulher o chamando de louco quando ele comenta, no café da manhã, que Deus havia falado com ele. E que ele iria construir um grande navio. E olhe que estavam muito longe do mar. O desjejum deve ter sido tumultuado. Os filhos comentando sobre toda a gozação que iriam sofrer ao construir um navio no quintal de casa. A sorte de Noé foi a de que, naqueles tempos, havia grande respeito com relação aos pais. Sobretudo ao pai. Assim sendo, após o desjejum Noé pôs a iniciar a construção da arca. Os relutantes filhos os acompanharam. O tempo era premente. O Senhor havia dado 7 ( sete ) dias a Noé . Então viria o Dilúvio , que castigaria a terra por 40 dias e 40 noites.

Embalados pela urgência da obra foram dias de muito trabalho. Tudo regado à gozação da população local que fazia da obra de Noé um motivo de chacota. Pouco sono e muito trabalho. Nos céus apenas ralas nuvens passavam aqui e ali. Os filhos e a mulher o olhavam, com desdém. Algumas revoltas dos filhos, das noras. Nada que um bom administrador não pudesse gerir. Enquanto preparavam a arca as mulheres colhiam o material necessário para alimentar tanto a eles quanto aos animais. No quarto dia, nada de chuva ainda. E o trabalho continuava. Nos últimos dias, porém, algo extraordinário começou a acontecer: vindo de todas as partes vieram animais de todos os tipos. Aves, roedores, mamíferos, predadores. O susto, pode-se imaginar, deve ter sido grande. Leões e outros animais de grande porte passando por eles . Cobras. Ratos. Uma população bem eclética. O ceticismo da família deu lugar à admiração. E o trabalho prosseguia sem parar.

Ao raiar do sétimo dia algo havia mudado. Os animais ainda chegavam provenientes sabe-se lá de onde. O céu nasceu cinzento. Faixas escuras podiam ser vislumbradas no horizonte. A arca estava praticamente terminada. Os alimentos, quase tudo recolhido. Apressaram-se para terminar tudo a tempo. Ao final do dia negras nuvens transformavam o dia em noite. Poucos animais ainda chegavam. Noé e sua família começaram a fechar as aberturas da arca. Trovões ribombavam por toda parte. Noé e sua família deve ter ajudado as poucas criaturas que faltavam a chegar à arca. Quando os primeiros pingos tiveram início a arca foi lacrada.

Dentro da arca, toda espécie de animais. Um zoológico flutuante. Cenas inusitadas : zebras calmamente ao lado de leões. Gatos com aves em cima. O cachorro dormindo ao lado do gato, silenciosamente. Realmente o fim do mundo se aproximava. A chuva lá fora aumentava absurdamente. Era a pior tempestade que haviam visto. E o trabalho na arca principiava. Afinal, tinham que cuidar e alimentar dos animais. Havia trabalho para todos. Então, subitamente e com um estrondo, a arca se deslocou. O volume das águas estava tão grande que o navio flutuava, livre. O que havia sido apenas o devaneio de um homem agora se mostrava real. Pessoas haviam batido à porta da arca. O Senhor , entretanto, havia advertido Noé de que não deveria abrir a arca sob nenhum motivo. E assim o fiel Noé agiu.

Bem, a arca flutuou sobre o mar que havia tomado a terra por 40 dias e 40 noites. Até que , ao secarem as águas, aportaram em uma montanha. Embora se falem na montanha de Ararat o termo original dizia que a arca aportou " nas montanhas de Ararat" . Uma diferença sutil. Mas na realidade bem grande.

Após o aporte Noé e sua família abriram a arca, deixando os animais saírem. Houve a repovoação do mundo. Noé e os seus puderam, enfim, descansar. E Deus fez aparecer sobre a terra um arco-íris, simbolizando a sua união com o Homem. Deus promete inclusive que não iria jamais destruir novamente toda a sua criação através das águas. Aqui é o final da história. A íntegra da história pode ser obtida diretamente da Bíblia, no Gênesis.


A lenda de Santa Maria

A lenda de Santa Maria de Afonnso X, conta um milagre que ocorreu em Faro durante o tempo do domínio muçulmano. A imagem da Virgem Maria estava colocada nas muralhas, devido à importância da comunidade cristã que residia na cidade de Santa Maria de Faro. Um dia, depois de algumas escaramuças entre cristãos e muçulmanos, este últimos resolveram retirar a imagem da Virgem Maria das muralhas e atirá-la ao mar. A partir dessa data, sempre que iam à pesca, as redes dos pescadores vinham vazias. Os muçulmanos perceberam que isso era um castigo por terem atirado a imagem da Virgem ao mar e resolveram ir buscá-la e recolocá-la no lugar de origem. Como recompensa, os peixes reapareceram em maior abundância, como não tinha acontecido até então.

A Lenda do Arrepiado

Recortada contra o azul do céu, a silhueta imponente do Castelo de Almourol, evoca um passado povoado de personagens lendárias, de guerreiros e de heróis, de mouras encantadas e misteriosas donzelas. Todo um imaginário de sonho vivificando de imaginário a História e a Cultura das populações vizinhas do milenar castelo. A imponente construção medieval ergue-se na pequena, mas agreste e solitária, ilha de Almourol no meio do formoso e vasto Tejo, ali engrossado pelas águas do luso Zêzere. Das suas elevadas torres avista-se uma paisagem deslumbrante. Perto, prende-nos a atenção a risonha e mourisca povoação do Arripiado. O seu nome remete para uma lenda a que não falta nenhum dos ingredientes requeridos pela arte narrativa do povo de riba Tejo: cavaleiros sedutores e jovens de divina formosura vivem amores ora contrariados ora bem conseguidos. E tudo acontece naquele lugar privilegiado pela natureza, um lugar disputado pelos homens e pelos deuses: a surpreendente ilha de rochas reluzentes destacadas do areão de seixos doirados. Ilha verde e ocre, sombreada de frescos salgueirais e de copados sobreiros e azinheiras. Quando um frémito de aragem percorre a ramaria, a moldura esmeraldina reflecte-se no espelho mágico do rio. Pescadores e homens serranos navegam as águas profundas e descansam nas aprazíveis praias do Tejo. Casario branqueja nas encostas marginais do grande rio. As povações do Arripiado, do concelho da Chamusca, e logo além Tancos, do concelho de Vila Nova da Barquinha, apresentam aos olhos do viajante as marcas de um Passado que se desdobra também na aventurosa gesta de desbravar a terra e o rio e as matas. Povoações que testemunham a luta quotidiana, vivida ao longo dos tempos, por povos de dferentes civilizações. Almourol, a pitoresca ilha tagana, era já um castro romano na Era de César. Na decadência do Império Romano, a arruinada fortaleza foi convento e ermitério. A situação estratégica determinou o oscilar da sua posse por senhores de exércitos, por nobres poderosos. No periodo de declinio da dominação muçulmana, algumas épocas de agitação seguem-se a tempos de pacifica convivência entre moçárabes e os cristãos descendentes dos godos. Em Almourol vivia-se ao sabor de algaras mouriscas e de fossados dos cavaleiros cristãos que acompanhavam os cruzados nas lutas pela Reconquista. Reza a tradição que, no século X, a ilha tinha sido conquistada pelo temido Ibne Baqui, filho do lendário Xurumbaque. Este era um Mouro dotado de forças superiores. Feito prisioneiro pelos nórdicos da Normandia, logrou escapar-se-lhes. Conheceu palmo a palmo a região galega e, mais tarde, as terras taganas. Era já muito velho, quando decidiu marcar os seus dominios e instalar-se, em recônditos e inacessiveis lugares, entre serranias e rios profundos, numa região da antiga Lusitania, entre Coimbra e Santarém. A ilha de Al Mourol foi reforçada e dotada de uma zona de residência e de lazeres. Uma luxuosa alcaçaba, onde Ibne Baqui dividia o seu tempo entre aventuras guerreiras e os prazeres da música e da poesia. Al Mourol era um luger de paz e de recolhimento e uma atalaia vigilante. O poderoso muçulmano amava muito a sua mulher, a doce Fata, da tribo de Micnesa. Ambos se orgulhavam de sue filha Ari, uma jovem de rara beleza e invulgar talento. Os seus cânticos dulcificavam o coração dos guerreiros de Alá . A sua elegância e arte de bailarina eram afamados em todo Al Andaluz. De Beja, por uma madrugada de Maio, chegou uma luzida embaixada. Logo, Ibne Baqui mandou que todos os barqueiros e pescadores do rio se preparassem para acolher e transportar para Al Mourol o seu amado e velho irmão e toda a luzida comitiva que de tão longe viera visitá-lo. Ibne Xurami, senhor de imensa fortuna e invencível poderio militar, ouvira falar de Ari. Por ela, se decidira a vir negociar um casamento que haveria de reforçar ainda mais os descendentes do heróico Xurumbaque. A doce Ari veio a saber pelo zum-zum das belas mulheres do Pátio das Estrelas o que estava a acontecer. Uma nuvem negra parecia-lhe pairar sobre a sua juventude. Desde menina que ela amava Mem Roderico, moçárabe influente, mensageiro da paz em muitas questões e rivalidades entre mouros e cristãos. Também ele amava perdidamente a formosa Ari. Esperavam ocasião asada para convencerem os pais de ambos a permitirem o seu casamento. Depois de um longo serão de festejos, Ari esperou que o pai e a mãe se dirigissem para os seus aposentos e pediu-lhes para a ouvirem. Confiada no amor dos seus progenitores, Ari confessou-lhes o seu romance com Mem Roderico. E, rojando-se no lajedo, jurou-lhes que não suportaria nunca casar-se com o velho tio. Irado, Ibne Baqui mandou que metessem a filha na mais alta torre da fortaleza. E, para que não tentasse fugir, dizem as pessoas antigas, que "Piaram-a, isto é, ataram-na pelos pés como se fazia às cavalgaduras ruins de amansar. Ari peada, morria de saudade e paixão. Certo dia, por uma estreita fresta, entrou uma pomba branca que trazia presa a um laço no pé uma mensagem. Era a notícia de que o seu amado Mem Roderico tinha sido morto numa cilada pelos soldados de Ibne Baqui. Nesse mesmo instante a alma pura da infeliz Ari deixou o seu formoso corpo. Ari peada voou no corpo da pomba branca e foi poisar na campa de Roderico, lá em baixo, frente ao Tejo, no branco cemitério da povação que o povo passou a chamar de Aripeada, a branca e bela povação do Arripiado.

Lenda do Castelo de Almourol


Durante a Idade Média, o Castelo de Almourol suscitou a criação de numerosas lendas, às quais não foram decerto alheias a beleza natural do lugar e a harmonia da construção. Uma delas é a de D. Ramiro, alcaide do Castelo de Almourol. Conta a lenda que, voltando cheio de sede de uma campanha guerreira, encontrou duas formosas mouras, mãe e filha, que traziam com elas uma bilha de água. D. Ramiro pediu à filha que lhe desse de beber. Esta, assustou-se e deixou cair a bilha. Enraivecido, D. Ramiro matou-as. Nesse momento apareceu um rapazinho de 11 anos, filho e irmão das assassinadas. O cavaleiro logo ali o fez cativo e trouxe-o para o castelo. Quando chegou, o pequeno mouro jurou que se vingaria na mulhar e na filha de D. Ramiro, duas damas muito belas. Tempos depois, a mulher do castelão definhou e acabou por morrer, vítima de venenos que o mouro lhe foi dando a pouco e pouco. Porém, não conseguiu matar Beatriz, a filha de D. Ramiro, porque os dois se apaixonaram. Um belo dia, D. Ramiro chegou ao Castelo na companhia de outro alcaide, a quem tinha prometido a mão de sua filha. Os jovens apaixonados, inconformados com a sorte que os esperava, fugiram sem deixar rasto. D. Ramiro morreu pouco depois, vitimado pelo desgosto. O castelo, abandonado, caíu em ruínas. Dizem que, nas noites de S. João, D. Beatriz e o mouro aparecem, abraçados, na torre grande do castelo. A seus pés, D. Ramiro implora perdão, mas o mouro inflexível responde-lhe com dureza: - MALDIÇÃO!

A Lenda do Senhor Jesus dos Lavradores


Numa manhã de Maio dos alvores da idade média,não se sabe bem já quando, um grupo de Cingeleiros destas terras de Riachos, andava, como tantos outros, na lavoura dos seus hastins dos campos do Espargal. Auxiliavam-nos nas suas duras tarefas juntas de bois de trabalho que, pacientemente, puxavam os arados (feitos de madeira de azinho protegida, nas pontas, por bicos de ferro). A certa altura e porque os bois não conseguiam avançar, fincando mesmo, com o esforço, os joelhos no chão, os lavradores repararam que o bico do arado estava preso numa grande pedra que começava a sobressair do ventre da terra. Escavando, então, descobriram debaixo da laje uma imagem, escura e triste, de um Senhor Jesus Crucificado, que, com a surpresa, os fez cair de joelhos como se de um milagre estivesse acontecendo. Limparam-lhe, depois, a terra húmida dos cabelos (quase humanos), de entre os dentes da boca enteaberta, dos pés e das mãos. Ajeitaram-lhe os pregos da cruz e, depois, levaram-na bem para o centro da povoação, para o Largo, aonde, sabido do milagroso achado,depressa acorreram, vindos dos seus casais, os outros lavradores-cingeleiros de Riachos. Carregada a imagem num carro puxado por uma junta de bois (precisamente aquela que a encontrou), enfeitaram-no de flores campestres e de ervas aromáticas e lá foram a cantar entregá-la (ainda que contrariadamente... ) à Igreja da sede da freguesia,em Santiago, perto do Paço, em Torres Novas. A partir daí, todos os anos, em plena Primavera, os cingeleiros de Riachos fizeram nascer a sua "Festa", a Festa da Benção do Gado, desfilando alegremente com os seus animais, enfeitados e floridos, numa recordação da memória do seu achado. E sempre, até aos dias de hoje, os riachenses relembram nesses dias o que há de mais profundo na sua memória: o encanto de uma lenda que acima de tudo representa a mais profunda ligação à Natureza, única fonte de riqueza da sua vida e do seu saber ancestral

A mal degolada


Em tempos muito antigos viveram nas margens do rio Lima, perto da vila de Ponte de Lima algumas famílias de mouros. Eles teimavam em lá continuar. Uma jovem moura muito bonita, apaixonou-se por um jovem cristão. Então começaram a namorar em segredo, porque eles não tinham a mesma religião. As famílias não aceitavam tal namoro. Um dia, foram dizer ao cristão apaixonado, que ela ia namorar todas as noites com outro homem, para junto da fonte. O rapaz não queria acreditar, mas ficou desconfiado. Assim, armado de um comprido punhal foi espreitá-la junto à fonte, mas escondido. Verificou que era verdade o que lhe tinham dito. Ficou cheio de ódio e quis vingar-se. De um salto, enterrou o afiado punhal no pescoço da moça, repetidas vezes. De repente, ouviu-se a voz de um velho e ele parou: - Desgraçado, o que fizeste ?! Acabas de matar a moça que por amor a ti, aprendeu o catecismo. Acabei agora mesmo de a baptizar, como cristã. O velho que falou, era um santo frade do convento. Ali vinha todas as noites, para a família dos mouros não desconfiar. Isto aconteceu onde hoje é a freguesia de Bertiandos. O povo chama à fonte, a ”Fonte da Moura” que fica na quinta de Bertiandos. Há também uma rua vizinha chamada a Rua da Fonte.

A moeda de prata


Era uma vez ... estava-se a 14 de Outubro do ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1605. Ali para os lados de São Silvestre, da freguesia de Colmeias, vivia um velhinho, chamado Henrique Dias, com a sua filha, uma moça casadoira, que se sentia muito doente. Volta e meia começava ela a rebolar-se no chão, com muitas dores. Naquele dia, já o sol era nado, teve um ataque que a fez estrebuchar longamente, pois tinha, como dizia o povo, o diabo no corpo. Alguns vizinhos, condoídos da triste sorte da rapariga, que viam tão dorida e lacrimosa, levaram-na à igreja para que Nossa Senhora da Pena lhe valesse. Era a hora da Santa Missa e a igreja estava cheia de fiéis. A moça foi levada até próximo do altar e, olhando para a imagem de Nossa Senhora, logo teve um afrontamento e quando estava quase a desmaiar teve um vómito mais violento e expeliu, pela boca, uma moeda de prata, de vintém. A rapariga de pronto se endireitou e, sentindo-se curada, rezou a Nossa Senhora com tanta devoção como até então nunca fizera.

A Moura do Castelo de Tavira


noite de S. João é, desde tempos imemoriais, a noite das mouras encantadas. A tradição conta que no castelo de Tavira existe uma moura encantada que todos os anos aparece nessa noite para chorar o seu triste destino. Os mais antigos dizem que essa moura é a filha de Aben-Fabila, o governador mouro da cidade que desapareceu quando Tavira foi conquistada pelos cristãos, depois de encantar a sua filha. A intenção do mouro era voltar a reconquistar a cidade e assim resgatar a infeliz filha, mas nunca o conseguiu. Existe uma lenda que conta a história de uma grande paixão de um cavaleiro cristão, D. Ramiro, pela moura encantada. Foi precisamente numa noite de S. João que tudo aconteceu. Quando D. Ramiro avistou a moura nas ameias do castelo, impressionou-o tanto a sua extrema beleza como a infelicidade da sua condição. Perdidamente enamorado, resolveu subir ao castelo para a desencantar. A subida através dos muros da fortaleza não se revelou tarefa fácil e demorou tanto a subir que, entretanto, amanheceu e assim passou a hora de se poder realizar o desencanto. Diz o povo que a moura, mal rompeu a aurora, entrou em lágrimas para a nuvem que pairava por cima do castelo, enquanto D. Ramiro assistia sem nada poder fazer. A frustração do jovem cavaleiro foi tão grande que este se empenhou com grande fúria nas batalhas contra os Mouros. Conquistou, ao que dizem, um castelo, mas ficou sem moura para amar...

A Mula da Rainha Santa


A Rainha Santa a que se refere esta lenda é D. Mafalda, a filha preferida de D. Sancho I e a irmã favorita de D. Afonso II. A jovem princesa era bela e perfeita como poucas e senhora de uma esmerada educação. Naquele tempo, subiu ao trono de Castela D. Henrique, uma criança de doze anos apenas, facilmente manobrada pelo seu tutor, Álvaro de Lara, que queria governar através do jovem rei. Querendo-lhe dar como esposa uma mulher que o dominasse quando fosse adulto, escolheu D. Mafalda e o casamento celebrou-se. D. Berengária, a mãe de D. Henrique, invocou ao Papa a consanguinidade dos jovens e o divórcio teve lugar antes da súbita morte do rei aos 14 anos. D. Mafalda regressou a Portugal virgem e assim se manteve até ao fim da sua vida, passando desde então a ser tratada por "rainha". Viveu os últimos anos da sua vida no Mosteiro de Arouca, onde recebeu o hábito de monja. Morreu aos 90 anos durante uma cobrança de foros e rendas em Rio Tinto, cujos habitantes queriam que D. Mafalda fosse sepultada nessa mesma terra. Mas em Arouca discordavam, porque era no Mosteiro que ela vivia e na sua igreja deveria repousar o seu corpo para sempre. Estava a discórdia instalada quando alguém se lembrou de dizer que se pusesse o caixão em cima da mula em que a Infanta costuma viajar e para onde o animal se dirigisse seria o local onde seria sepultada. A mula não teve dúvidas e quando chegou à igreja do Mosteiro de Arouca, acercou-se do altar de S. Pedro e aí morreu. O sepulcro de D. Mafalda foi duas vezes aberto no século XVII e tanto o seu corpo como as suas vestes estavam incorruptos. Em 1793, o Papa Pio VI confirmou-lhe o culto com o título de beata.

A princesa Zara


Era uma vez ... nos tempos já muito distantes do Rei Afonso, que do norte vinha para o Sul, conquistando terras e mais terras que estavam na posse da moirama, chegou ele às proximidades de Leiria cuja terra conquistou também. Aqui construiu um castelo rouqueiro, que entregou à guarda dos seus guerreiros, abalando à conquista de mais terras, a construir um Portugal maior. Os mouros sabendo do castelo pouco guardado, voltaram e, após uma luta porfiada, venceram os guardas do castelo e tomaram-no. Passou a ser por essa altura, seu guardião, um velho mouro que vivia com sua filha, uma linda moura de olhos esmeraldinos e louros cabelos entrançados, chamada Zara. Um dia, já o sol se escondia no horizonte sob nuvens acobreadas, a linda moura, estava à janela do castelo voltada ao Arrabalde, a pentear os cabelos encanecidos de seu velho pai, quando viu ao longe uma coisa que lhe pareceu estranha, mesmo muito estranha. Que viu a linda princesa castelã, de olhos verdes de esmeralda? Viu o mato a deslocar-se de um lado para o outro e também em direcção do castelo. Foi então que a linda princesa castelã perguntou ao seu velho pai: “Oh! Pai, o mato anda?” Ao que o pai da linda princesa, respondeu: “Anda, sim, minha filha, se o levam.” E o mato era levado, sim, mas pelos guerreiros cristãos do Rei Afonso, que se escondiam atrás de paveias de mato que cortaram e ajuntaram para avançarem para o castelo sem serem vistos. E avançaram, avançaram cautelosamente, até que já próximo da porta chamada da traição, correram, passaram-na lestamente e conquistaram o castelo. Nunca mais se soube da linda princesa de olhos verdes, nem de seu velho pai, que era o Governador, mas, a partir desse dia, Portugal ficou maior.
A Senhora da Gaiola
A entrada de exércitos invasores num país traz consigo a depradação, o latrocinar mais violento. No caso da invasão dos mouros na Lusitânia terá sido muito pior, não só pelo roubo à mão armada, como pela incompatibilidade religiosa. Daí que em algumas terras de cristãos, os habitantes se vissem forçados a esconderem nos lugares mais recônditos da sanha dos infiéis as imagens que lhes eram mais queridas. Foi o que sucedeu, segundo reza a lenda ou a tradição, com a imagem de Nossa Senhora, ali nas Cortes, a uma curta légua a sul de Leiria. Um dia, em mui recuados tempos, uns pastores internaram-se, com seus rebanhos, mato a dentro, na direcção do sul, sempre mais e mais dentro de densas brenhas. E heis se não quando topam com uma linda imagem da Virgem Mãe de Jesus, iriante, encastoada num tronco de árvore. Os pastores ajoelharam reverentemente e logo construíram uma cabana de ramos de árvores e mato para a entronizarem, cabana essa que mais parecia uma gaiola. A notícia correu célere e trouxe à pequena choça as gentes das vizinhanças e, depois, a de lugares mais distantes, que à Santa Imagem começaram a chamar a Senhora da Gaiola, como ainda hoje é conhecida, venerada e festejada e já considerada Padroeira da freguesia das Cortes.

A Truta da Rainha

Vítima de uma intriga dos escudeiros de seu marido, Aragúncia, rainha de Aragão, foi injustamente acusada de favorecer com as suas atenções um jovem cavaleiro da corte. O rei de Aragão achou que esta ofensa só seria resgatada com a morte. Aragúncia decidiu fugir quando teve conhecimento do seu destino fatal e, disfarçando-se de mendiga, saiu do castelo com algumas aias e escudeiros da sua confiança. O rei perseguiu-a e esteve quase a alcançar o pequeno séquito, mas os barqueiros de rio Minho ajudaram a rainha, demorando muito a travessia dos homens do rei. Aragúncia recolheu-se numas escarpas negras que formavam uma pequena fortaleza natural junto ao rio. O rei decidiu pôr-lhe cerco e fazer a rainha render-se pela fome e pela sede. Mas como quem não deve não teme, a Aragúncia não desesperou e quando teve sede encontrou uma pequena fonte que brotava das rochas. Passados dias, quando a fome começou a apertar apareceu por cima do penhasco uma águia real levando nas garras uma truta que deixou cair. Embora atormentada pela fome, Aragúncia embrulhou a truta e mandou-a ao rei para que este se saciasse. Convencido que Deus estava com a rainha, o rei de Aragão levantou o cerco de um local que passou a chamar-se Trute, decidindo perdoar-lhe a falta. Aragúncia recusou o perdão por uma falha que não tinha cometido e ficou a viver naquele local austero para sempre. O lugar ficou a ser conhecido por Castelo de Furna ou Castelo de Faião, onde existe uma pedaço de terra a que o povo ainda chama de Horta da Rainha. A tradição manda que, nas manhãs de S. João, o povo acorra àquele local para beber da água que matou a sede da rainha e que tem a fama de curar as doenças de pele.

Santiago e Caio
No ano de 44 da era de Jesus Cristo, passeava pela praia de Matosinhos um ilustre cavaleiro da Maia, Caio Carpo Palenciano, com a sua mulher Claudina e vários parentes e amigos. Cavalgava o grupo pelo areal quando alguém vislumbrou uma barca que se dirigia para norte. Os cavaleiros e as damas pararam todos para apreciar o ritmo e a beleza da embarcação, quando inexplicavelmente o cavalo de Caio galopou para dentro do mar, apesar de este o tentar evitar, como se fosse obrigado por uma força desconhecida. Cavalo e cavaleiro imergiram no mar e desapareceram para ressurgirem perto da barca, para onde subiram cobertos de vieiras. Quando perguntaram à tripulação o motivo deste fenómeno e qual a razão da sua viagem, estes explicaram que eram discípulos cristãos de um homem chamado Tiago. Tinham fugido de grandes perseguições, levando o corpo do seu Mestre para terras de Espanha, onde Tiago tinha pregado o Evangelho. Segundo estes homens, o fenómeno ocorrido com Caio e o seu cavalo poderia ser explicado pelo facto de ele ser um escolhido de Nosso Senhor. As vieiras eram o sinal de Santiago que queria ver Caio abraçar a lei de Deus. Comovido, Caio foi ali mesmo baptizado com água do mar e, quando voltou para junto dos seus familiares e amigos, a todos converteu com o extraordinário feito de Santiago. As vieiras ficaram a fazer parte do brasão da nobre família Pimentel de Trás-os-Montes, descendentes, segundo se crê, de Caio Carpo Palenciano.

Lenda de Valongo e Susão
Os nomes de Valongo e Susão têm origem nesta lenda que remonta à época em que alguns cristãos perseguidos no Oriente se refugiaram em Cale, foz do rio Douro. Entre eles estava o rico negociante judeu Samuel, recém convertido ao Cristianismo, e a sua filha Susana. Pensavam os fugitivos estarem já livres de perseguições quando foram obrigados a defender-se dos árabes que dominavam a região. Com astúcia, prepararam uma armadilha e capturaram o jovem Domus de cujo resgate esperavam obter a paz. Enquanto decorriam as negociações, Domus e Susana apaixonaram-se e o mouro pediu para ser baptizado para poder casar-se com a jovem. O acordo com os muçulmanos era assim impossível e decidiram todos fugir, deixando Portucale (Porto) em direcção ao Oriente. Chegados ao topo da Serra de Santa Justa depararam com uma paisagem lindíssima e a apaixonada Susana exclamou um elogio sincero ao vale longo que sob os seus olhos se estendia. Desceram ao vale e nele decidiram ficar para sempre, edificando as primeiras casas de uma povoação que se veio a chamar Susão, em memória da bela Susana. O vale que Susana tinha achado belo e longo ficou conhecido como Valongo.
Lenda dos Tripeiros
No ano de 1415, construíam-se nas margens do Douro as naus e os barcos que haveriam de levar os portugueses, nesse ano, à conquista de Ceuta e, mais tarde, à epopeia dos Descobrimentos. A razão deste empreendimento era secreta e nos estaleiros os boatos eram muitos e variados: uns diziam que as embarcações eram destinadas a transportar a Infanta D. Helena a Inglaterra, onde se casaria; outros diziam que era para levar El-Rei D. João I a Jerusalém para visitar o Santo Sepulcro. Mas havia ainda quem afirmasse a pés juntos que a armada se destinava a conduzir os Infantes D. Pedro e D. Henrique a Nápoles para ali se casarem... Foi então que o Infante D. Henrique apareceu inesperadamente no Porto para ver o andamento dos trabalhos e, embora satisfeito com o esforço despendido, achou que se poderia fazer ainda mais. E o Infante confidenciou ao mestre Vaz, o fiel encarregado da construção, as verdadeiras e secretas razões que estavam na sua origem: a conquista de Ceuta. Pediu ao mestre e aos seus homens mais empenho e sacrifícios, ao que mestre Vaz lhe assegurou que fariam para o infante o mesmo que tinham feito cerca de trinta anos atrás aquando da guerra com Castela: dariam toda a carne da cidade e comeriam apenas as tripas. Este sacrifício tinha-lhes valido mesmo a alcunha de "tripeiros". Comovido, o infante D. Henrique disse-lhe então que esse nome de "tripeiros" era uma verdadeira honra para o povo do Porto. A História de Portugal registou mais este sacrifício invulgar dos heróicos "tripeiros" que contribuiu para que a grande frota do Infante D. Henrique, com sete galés e vinte naus, partisse a caminho da conquista de Ceuta.
O Senhor de Matosinhos
"Segundo a tradição, a imagem do Senhor de Matosinhos é uma das mais antigas de toda a cristandade. A lenda diz que esta imagem foi esculpida por Nicodemos, que assistiu aos últimos momentos de vida de Jesus, sendo por isso considerada uma cópia fiel do seu rosto. Nicodemos esculpiu mais quatro imagens mas esta é considerada a primeira e a mais perfeita. A imagem é oca porque nela teria Nicodemos escondido os instrumentos da Paixão e, nesses tempos de perseguição, os objectos sagrados eram escondidos ou atirados ao mar para escaparem à fogueira. Nicodemos atirou a imagem ao mar Mediterrâneo, na Judeia, e esta foi levada pelas águas, passou o estreito de Gibraltar e veio dar à praia de Matosinhos, perdendo na viagem um braço. A população de Bouças ergueu-lhe um templo e designou a imagem por Nosso Senhor de Bouças, venerando-a durante 50 anos pelos seus muitos milagres. Mas um dia, andava uma mulher na praia de Matosinhos a apanhar lenha para a sua lareira, quando encontrou um pedaço de madeira que juntou aos restantes. Em casa, lançou-o ao fogo mas este pedaço saltou da lareira não só da primeira, mas como de todas as vezes que ela o tentava queimar. A sua filha, muda de nascença, fazia-lhe gestos desesperados para que dizer qualquer coisa e, por fim, balbuciou, perante o espanto da mãe, que o pedaço de madeira era o braço de Nosso Senhor das Bouças. Assombrada pelo milagre a população verificou que o braço se ajustava tão bem à imagem que parecia que nunca dela se tinha separado. No século XVI, a imagem foi mudada para uma igreja em Matosinhos, construída em sua honra, ficando a ser conhecida por Nosso Senhor de Matosinhos."
Lenda do Rei Ramiro
"Uma antiga lenda que remonta ao século X, conta que o rei Ramiro II de Leão se apaixonou por uma bela moura de sangue azul, irmã de Alboazer Alboçadam, rei mouro que possuía as terras que iam de Gaia até Santarém. Influenciado pela sua paixão e com a intenção de pedir a moura em casamento, Ramiro decidiu estabelecer a paz com Alboazer, que o recebeu no seu palácio de Gaia. Apesar de já ser casado, Ramiro pensou que seria fácil obter a anulação do seu casamento pelo parentesco que o unia a D. Aldora. Alboazer recusou terminantemente: nunca daria a irmã em casamento a um cristão e, de todas as formas, esta já estava prometida ao rei de Marrocos. O rei Ramiro, vexado, pareceu aceitar a recusa, mas pediu ao astrólogo Amã que estudasse os astros para decidir qual a melhor altura para raptar a princesa e levou-a consigo nessa data propícia. Dando por falta da irmã, Alboazer ainda chegou a tempo de encontrar os cristãos a embarcar no cais de Gaia. Gerou-se uma luta favorável ao rei cristão, que levou a princesa moura para Leão, a baptizou e lhe deu o nome de Artiga, que tanto significava castigada e ensinada como dotada de todos os bens. Alboazer, para se vingar, raptou a legítima esposa do rei Ramiro, D. Aldora, juntamente com todo o seu séquito. Quando o rei Ramiro soube do rapto ficou louco de raiva e, juntamente com o seu filho D. Ordonho e alguns vassalos, zarpou de barco para Gaia. Aí chegados Ramiro disfarçou-se de pedinte e dirigiu-se a uma fonte onde encontrou uma das aias de D. Aldora a quem pediu um pouco de água, aproveitando para dissimuladamente deitar no recipiente da água meio camafeu, do qual a rainha possuía a outra metade. Reconhecendo a jóia, D. Aldora mandou buscar o rei disfarçado de pedinte e, por vingança da sua infidelidade, entregou-o a Alboazer. Sentindo-se perdido, o rei Ramiro pediu a Alboazer uma morte pública, esperando com astúcia ganhar tempo para poder avisar o seu filho através do toque do seu corno de caça. Ao ouvir o sinal combinado, D. Ordonho acorreu com os seus homens ao castelo e juntos mataram Alboazer e o seu povo, para além de destruírem a cidade. Levando D. Aldora e as suas aias para o seu barco, o rei Ramiro atou uma mó de pedra ao pescoço da rainha e atirou-a ao mar num local que ficou a ser conhecido por Foz de Âncora. O rei Ramiro voltou para Leão onde se casou com a princesa Artiga, de quem teve uma vasta e nobre descendência."

Lenda de Pedro Sem
"A torre medieval que se encontra diante do antigo Palácio de Cristal, no Porto, é ainda hoje conhecida por Torre de Pedro Sem. A história diz que essa torre pertencia a Pêro do Sem, doutor de leis, jurisconsulto e chanceler-mor de D. Afonso VI, no século XIV. Mas a lenda remete para uma data posterior, no século XVI, a existência de um personagem Pedro Sem que vivia no seu Palácio da Torre. Possuindo muitas naus na Índia, Pedro Sem era um mercador rico mas não tinha títulos de nobreza, o que muito o afectava. Era também usurário, emprestando dinheiro a juros elevados, à custa da desgraça alheia, enquanto vivia rodeado de luxo. Estavam as suas naus a chegar, carregadas de especiarias e outros bens preciosos, quando a sua máxima ambição foi realizada através do seu casamento com uma jovem da nobreza, em troca do perdão das dívidas de seu pai. Decorria a festa de casamento, que durou quinze dias consecutivos, quando as naus de Pedro Sem se aproximaram da barra do Douro. O arrogante mercador acompanhado pelos seus convidados subiu à torre do seu palácio e, confiante do seu poder, desafiou Deus, dizendo que nem o Criador o poderia fazer pobre. Nesse momento, o céu que estava azul deu lugar a uma grande tempestade! Pedro Sem assistiu, impotente e encharcado pela chuva, ao naufrágio das suas naus. De seguida, a torre foi atingida por um raio que fez deflagrar um incêndio que destruiu todos os seus bens. Arruinado, Pedro Sem passou a pedir esmola nas ruas, lamentando-se a quem passava: "Dê uma esmolinha a Pedro Sem, que teve tudo e agora não tem...".
 
Lenda do Milagre das Rosas
Coimbra Esta é uma das mais conhecidas lendas portuguesas que enaltece a bondade da rainha D. Isabel para com todos os seus súbditos, a quem levava esmolas e palavras de consolo. Conta a história que um nobre despeitado informou o rei D. Dinis que a rainha gastava demais nas obras das igrejas, doações a conventos, esmolas e outras acções de caridade e convenceu-o a por fim a estes excessos. O rei decidiu surpreender a rainha numa manhã em que esta se dirigia com o seu séquito às obras de Santa Clara e à distribuição habitual de esmolas e reparou que ela procurava disfarçar o que levava no regaço. Interrogada por D. Dinis, a rainha informou que ia ornamentar os altares do mosteiro ao que o rei insistiu que tinha sido informado que a rainha tinha desobedecido às suas proibições, levando dinheiro aos pobres. De repente e mais confiante D. Isabel respondeu: "Enganais-vos, Real Senhor. O que levo no meu regaço são rosas..." O rei irritado acusou-a de estar a mentir: como poderia ela ter rosas em Janeiro? Obrigou-a, então, a revelar o conteúdo do regaço. A rainha Isabel mostrou perante os olhos espantados de todos o belíssimo ramo de rosas que guardava sob o manto. O rei ficou sem palavras, convencido que estava perante um fenómeno sobrenatural e acabou por pedir perdão à rainha que prosseguiu na sua intenção de ir levar as esmolas. A notícia do milagre correu a cidade de Coimbra e o povo proclamou santa a rainha Isabel de Portugal.
 
A Ponte do Cavaleiro
Leiria Era uma vez ... no tempo já distante, dos princípios do cristianismo, vivia uma senhora chamada Dona Loba, que era muito rica. Esta Dona Loba prometera ao Apóstolo São Tiago converter-se à religião de Jesus de Nazaré, então a espalhar-se por toda a Europa. Aquele Santo, que não gostava de perder, mandou dois dos seus discípulos mais dedicados a cristianizar aquela rica senhora. Ao mesmo tempo ela escrevia uma carta a um casal muito da sua confiança e que vivia ali nas Cortes, a uma curta légua de Leiria, a pedir-lhe conselho sobre a sua conversão à Verdade de Cristo. Estes seus amigos chamavam-se Lúcio Venónio, ele, ela Celerina, e eram romanos muito ricos e muito poderosos. Logo que os discípulos de São Tiago chegaram à fala com Dona Loba ela entregou-lhes a carta que havia escrito para Venónio e para sua mulher. Os discípulos andaram, andaram, e alcançaram a casa de Venónio e entregaram a carta de Dona Loba. Mas Venónio, que ainda não tinha ouvido falar da doutrina de Jesus de Nazaré, não gostou do que Dona Loba dizia e mandou-os prender. Era já noite. Mas ... quando os raios de sol começaram a dar os bons dias à terra, os Anjos libertaram os prisioneiros que logo deram às de Vila Diogo. Venónio, ao saber da fuga dos seus prisioneiros, deu por paus e por pedras e mandou-os perseguir pelos seus homens a cavalo. Os perseguidores correram a toda a brida e foram apanhá-los junto a uma ponte que ali havia. Mas os discípulos do Apóstolo estugaram o passo para o outro lado da ponte, a salvo. O mesmo não sucedeu aos homens de cavalo, de Venónio, que, quando chegaram ao meio da ponte esta ruiu e, catrapuz ... homens e cavalos foi tudo de roldão por água abaixo. O povo, o bom povo das Cortes e das vizinhanças, viu neste acontecimento um castigo de Deus e converteu-se à Religião de Cristo. Também Venónio e sua mulher Celerina se tornaram cristãos, tão bons e generosos que, no dizer do povo, ela era uma boa Santa. Venónio, tempo depois, morreu na paz do Senhor, e sua mulher, foi para Sines onde veio a ser martirizada, por não querer abjurar a sua Fé, e tornou-se Santa muito venerada naquela terra de Sines. E foi deste modo que começou, na região de Leiria, a cristianização dos Povos.
 
A Raiva do Alva
Coimbra A localidade de Pombeiro da Beira tem na sua história uma disputa entre três rios, o Mondego, o Alva e o Zêzere, todos nascidos na Serra da Estrela. Estes três rios envolveram-se um dia numa grande discussão sobre quem seria o mais valente e acertaram numa corrida que esclareceria a questão: quem chegasse primeiro ao mar seria o vencedor. O Mondego levantou-se cedo e começou a deslizar silenciosamente para não atrair as atenções. Passou pela Guarda e pelas regiões de Celorico, Gouveia, Manteigas, Canas de Senhorim e pela Raiva, onde se fortaleceu junto dos ribeiros seus primos, chegando por fim a Coimbra. O Zêzere, que estava atento, saiu ao mesmo tempo que o seu irmão. Oculto, por entre os penhascos, foi direito a Manteigas, passou a Guarda e o Fundão, mas logo depois se desnorteou e, cansado, veio a perder-se nas águas do Tejo. O Alva passou a noite a contar as estrelas, perdido em divagações de sonhador e poeta. Quando acordou, era já muito tarde mas ainda a tempo de avistar os seus irmãos ao longe. Tempestuoso, rompeu montes e rochedos, atravessou penhascos e vales, mas quando pensava que tinha vencido deparou com o Mondego, no momento que este já adiantado chegava ao mar. O Alva ainda tentou expulsar o seu irmão do leito, debatendo-se com fúria e espumando de raiva, mas o Mondego engoliu-o com o seu ar altivo e irónico. Este lugar onde os dois rios lutaram ficou para sempre conhecido como Raiva, em memória da contenda entre os dois irmãos.
 

Sem comentários:

Enviar um comentário